Ciência e Cultura. Quebrar fronteiras |Imaginação, afectividade e narrativa CICLO DE SEMINÁRIOS | 11 mar. '24 | 14h30-16h30 | Sala de Formação | Entrada livre Resumo Nesta sessão do Seminário, gostaríamos de retomar, de comentar e de debater com os presentes algumas das afirmações de Richard Kearney segundo as quais a imaginação narrativa suscita identificações capazes de transformar as realidades afectivas que permeiam a nossa realidade individual, social e política. Na senda dos trabalhos de Ricœur e de Freud, o filósofo irlandês dá-nos a entender que, na ausência de um sentido único e acreditado, expressos pela angústia, pela alienação, pelo vazio, pelo sentimento da absurdidade e pelo tédio, «a imaginação promete apresentar aqui e agora os valores "ausentes", na medida em que ela encoraja a consciência a desafiar o adiamento histórico do sentido, resolvendo criar o seu próprio sentido, a partir do nada», mesmo que, para isso, tenha de inventar mundos irreais ou de criar aquilo que anteriormente era irreal no mundo. Ao fomentar a visão, a iniciativa e a empatia, a imaginação, e em particular a imaginação narrativa, confere um sentido para lá do que se pode apreender imediatamente e aumenta a responsabilidade do eu pelos outros. A imaginação propõe-nos uma variedade de figuras que constituem "experiências de pensamento" que convocam a afectividades e pelas quais os aspectos éticos da acção humana, para além de assentarem em emoções enraizadas no prazer e na dor, se ligam à felicidade, ao infortúnio ou às nossas aspirações mais secretas. Através das narrativas, tanto ficcionais como históricas, e da possibilidades que elas nos oferecem de nos colocarmos no local de outros, regressamos transformados ao nosso mundo que, por sua vez, também foi alterado por todas as possibilidades de vida que encontrámos graças às variações imaginárias. Ao suscitar e reorganizar a vida pulsional que permeia as nossas representações, a narrativa teria assim o poder de determinar as nossas existências individuais e colectivas. Dando-nos a experienciar o que é possível, a imaginação teria assim uma dimensão ética crucial assegurada pelas "viagens" de partida e de regresso capazes de transformar o sentido das nossas vidas. Sobre o autor Nuno Miguel Proença é investigador do Grupo Pensamento Moderno e Contemporâneo do CHAM - Centro de Humanidades, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa. Doutorado em Filosofia com uma tese sobre Freud (Qu'est-ce que l'objectivation en psychanalyse? Paris, L'Harmattan, 2008), coordenou, com Adelino Cardoso, o livro Dor, Sofrimento e Saúde Mental na Arquipatologia de Filipe Montalto (Húmus, 2018). Mais recentemente publicou Vida, Afectividade e Sentido (Húmus, 2020) e também Segunda Visão da Noite (Húmus, 2023). Em 2012 integrou a equipa docente do Curso Livre em Medicina Narrativa, na FLUL e, em 2023, foi membro da comissão organizadora do Colóquio Internacional sobre Invenção e imaginação na FCSH-NOVA. PRÓXIMAS SESSÕES 17 abril | Uma visão aporética do cuidado de si hoje: desafio de Michel Foucault ao sujeito ético | Adelino Ferreira 27 maio | A censura no reino da estupidez | Hervé Baudry 24 junho | A ‘alienatio mentis' e os limites da razão na literatura medieval em Portugal | Bruno Barreiros 22 julho | O problema estético em G. W. Leibniz | Sofia Araújo 23 setembro | A ciência da alma na ‘Philosophia Libera' (1673) de Isaac Cardoso | Luciana Braga 21 outubro | Feminino e objeto feitiço: a dinâmica da falta na relação de objeto | Joana Lamas Coordenação: Adelino Cardoso e Nuno Miguel Proença