A matéria-prima vem diretamente do jazz – ou melhor, é a do jazz –, mas o embrulho, o tipo de entrega, a comunicabilidade são as da pop. E porque assim é, Beatriz Pessoa revelou-se discograficamente (em 2016) não com um álbum mas um EP, Insects, e dele editou dois singles, You Know e Disguise, com videoclips a condizer. O formato canção não reconhece fronteiras, e quantas mais referências engloba (no caso as da soul, do rock e de alguma eletrónica), mais rico musicalmente resulta, sendo esse o propósito (a missão?) desta cantora e teclista que se formou na Escola Superior de Música de Lisboa, depois de ter passado pela Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal, e que teve a oportunidade de estudar com Greg Osby, Danilo Perez e Jorge Rossy. Os temas têm um registo intimista, fresco e suave, como se Beatriz nos sussurrasse ao ouvido. São de audição acessível, mas seguem especiais preocupações de estilo. São diretos nos efeitos pretendidos, mas contam com uma produção que não é habitual encontrar no jazz instrumental. Lianne La Havas e Laura Mvula são influências assumidas. O acompanhamento está entregue a João Hasselberg (baixo elétrico), o músico que no nosso país mais tem contribuído para tornar o pop-jazz numa tendência (da pop e do jazz) esteticamente nobre, a João Lopes Pereira (bateria) e a Margarida Campelo (teclados, voz). Todos eles têm estado com Beatriz desde o início e todos eles contribuem decisivamente para o produto final. A composição e as letras, essas, são da própria, sempre com a particularidade de contarem histórias.