MOEBIUS: Fragmentos de ilusão, mapas de êxodo dos diários de Karl Marx (Capítulo I) é o título da exposição que Ana Guedes inaugura na BAGINSKI em Novembro de 2017 e que dá continuidade ao trabalho recentemente apresentado na residência DeFabriek em Den Haag, Holanda. A exposição contempla três momentos complementares — uma instalação sonora, um concerto-performance e um arquivo de discos — que se intersectam numa linha temporal correspondente a referências pessoais da artista, revelando estruturas sociais e politicas resultantes de uma condição pós-colonial. A prática de Guedes decorre de uma acção performativa que resulta da transformação de objectos em instrumentos sonoros, incentivando interpretações subjectivas que resgatam universos imagéticos correspondentes a realidades históricas, sociais e politicas. Estes objectos tornam-se, assim, catalisadores de uma relação de contemplação do espectador, incitando-o a operar sobre eles numa relação pessoal de formalismo musical, abstraída do significado colectivo imputado pelas circunstâncias históricas que motivaram as obras. A exposição desenrola-se em torno do imaginário criado pelo navio Karl Marx, uma das antigas estrelas da marinha mercante angolana, encalhado no cemitério de navios da baía de Santiago, a Norte de Luanda. Sem dados concretos sobre a sua tipologia ou o seu propósito, o mistério em torno dos navios destroçados formulam um conjunto de possibilidades sobre a sua existência permitindo analogias à realidade social e política da Angola colonial, a interferência da URSS no pós-independência e a transformação em estado comunista. Em paralelo, Guedes apresenta um concerto-performance que resulta de um arquivo de discos de vinil das décadas de 60 a 80, adquiridos em Angola Portugal e Canadá, respeitando uma afinidade cronológica e geográfica correspondente ao percurso da família de Guedes. Este arquivo desdobra-se em duas leituras, compondo, em simultâneo, um mapa de influências e repercussões inter-culturais e uma projecção autobiográfica, enlaçada a uma realidade histórica, que acompanha a produção artística de Ana Guedes. Esta construção de meta-narrativas interligadas, pressuposta a uma ideia de continuidade e infinitude, é uma característica dialéctica dos trabalhos de Ana Guedes, onde são sempre deixadas pontas que se amarram entre elas ou tecem novas narrativas. ANA GUEDES (Braga, 1981) é uma artista multidisciplinar que vive e trabalha em Den Haag, Holanda. É formada em escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Portugal, e Mestre em Artes Intermédia, pela Universidade de Évora e em Investigação Artística, pela Royal Academy for the Arts, de Den Haag, Holanda. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbekian em 2015-16 e artista selecionada para o prémio EDP Novos Artistas 2017, tendo-lhe sido atribuída uma Menção Honrosa pelo trabalho apresentado. Das exposições e performances que realizou destacam-se: From the Karl Marx Series, DeFabriek, Eindhoven, Holanda (2017), Untitled Records, Ondertussen Space, Stroom Den Haag, Holanda (2017); Untitled Records, Playground Festival, Leuven, Belgium (2016); Klank2 - Negen Geluidssculpturen, DeFabriek, Eindhoven, Holanda (2016); The ongoing conversation #3, Galeria 1646, Den Haag, Holanda (2016); I want sometimething with a house in - Vrije Academie Gemak, Den Haag, Holanda (2015); Voyager#01, co-produção ar_search + Teatro do Frio, Festival InSONORA, MNCARS - Museu Reyna Sophia, Madrid, Espanha (2014); Um século, Dez lápiz, Cem Desenhos – Viarco Express, Oliva Creative Factory, São João da Madeira, Portugal (2010); Possible, CAPC - Círculo de Artes Plásticas, Coimbra, Portugal (2007); Unsupportable Reality, Meno Parkas