No que respeita à Música, uma das principais «dádivas» do século XX foi a possibilidade de contemplarmos a qualidade expressiva dos sons, independentemente de serem, ou não, produzidos por instrumentos convencionais. De rompante, escancararam-se as portas de universos tímbricos tão fascinantes como a eletrónica e as percussões. Assim, podemos hoje ouvir uma orquestra exclusivamente composta por instrumentos de percussão interpretar A Sagração da Primavera, a música que Stravinsky escreveu para o bailado que recria o sacrifício divino de uma jovem num ritual primitivo em favor de boas colheitas. Nesta transcrição de Miguel Sobral Curado sobressaem a repetição obstinada de acordes maciços, a imprevisibilidade rítmica e uma intensidade física e emocional que recria fielmente o original de 1913. De igual modo, também o Concerto para Beleza e Vibrafone, de Jorge Salgueiro, deriva aqui numa transcrição para orquestra de percussão, desta feita assinada pelo próprio compositor (a primeira versão, de 2015, destinava-se a vibrafone solista com orquestra de cordas e metais). A parte eletrónica soletra a palavra «Beleza» em várias línguas, estabelecendo um diálogo estreito com uma partitura de pendor minimalista. SONS PELA CIDADE | Percussões da Metropolitana Jorge Salgueiro - Concerto para Beleza e Vibrafone (versão para orquestra de percussão) Igor Stravinsky - A Sagração da Primavera (transcrição para orquestra de percussão de Miguel Sobral Curado) Solista: Marco Fernandes Orquestra de Percussão: Andreu Rico, Eduardo Machado, Fernando Llopis, Gonçalo Martins, Gonçalo Reis, João Calado, João Brito, Madalena Rato, Marcelo Ricardo, Marco Fernandes, Paulo Amendoeira, Ricardo Mendes e Rodrigo Azevedo Maestro: Reinaldo Guerreiro #entradalivre - Todos os concertos serão comentados