PRIMAVERA TARDIA — (Re) Visitação do Cinema Japonês Da modernidade dos clássicos ao classicismo dos modernos. Um ciclo de cinema por ocasião do lançamento das caixas DVD de Kenji Mizoguchi (9 de Junho) e Yasujiro Ozu, da estreia de Esplendor, o novo filme de Naomi Kawase (14 de Junho), e da reposição, em cópia digital restaurada, dos filmes Primavera Tardia, de Yasujiro Ozu (28 de Junho) e Contos Cruéis da Juventude, de Nagisa Oshima (5 de Julho). Caídas as flores da cerejeira, eis o templo — através dos ramos. Yosa Buson [trad. Luísa Freire] Programação: 31 Maio, Quinta UMA PASTELARIA EM TÓQUIO, de Naomi Kawase . M/12 Horário: 14h30, 22h00 31 Maio, Quinta EXÉRCITO VERMELHO UNIDO, de Kôji Wakamatsu . M/16 Horário: 18h30 01 Junho, Sexta FESTA EM GION, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário:14h30, 17h00, 19h30, 22h00 02 Junho, Sábado A FLOR DO EQUINÓCIO, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 03 Junho, Domingo OS AMANTES CRUCIFICADOS, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 04 Junho, Segunda O MEU MAIOR DESEJO, de Kore-eda Hirokazu . M/6 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 05 Junho, Terça RUMO À OUTRA MARGEM, de Kiyoshi Kurosawa . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 05 Junho, Terça O BOM SOLDADO, de Kôji Wakamatsu . M/16 Horário: 19h30 06 Junho, Quarta TABU - GOHATTO, de Nagisa Oshima . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 DOLLS, de Takeshi Kitano . M/12 Horário:19h00 07 Junho, Quinta O FIM DO OUTONO, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 07 Junho, Quinta QUANDO UMA MULHER SOBE AS ESCADAS, de Mikio Naruse . M/12 Horário: 19h30 08 Junho, Sexta DERSU UZALA, de Akira Kurosawa . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 09 Junho, Sábado CONTOS DA LUA VAGA, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 Lançamento da caixa Kenji Mizoguchi em DVD Horário: 19h30 10 Junho, Domingo VIAGEM A TÓQUIO, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 11 Junho, Segunda O ÊXTASE DOS ANJOS, de Kôji Wakamatsu . M/18 Horário: 14h30, 17h00, 19h30 Antestreia 11 Junho, Segunda ESPLENDOR, de Naomi Kawase . M/12 Horário: 21h30 12 Junho, Terça O INTENDENTE SANSHO, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 12 Junho, Terça O IMPÉRIO DA PAIXÃO, de Nagisa Oshima . M/18 Horário: 19h30 13 Junho, Quarta O VERÃO DE KIKUJIRO, de Takeshi Kitano . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30 13 Junho, Quarta O IMPÉRIO DOS SENTIDOS, de Nagisa Oshima . M/18 Horário: 22h00 14 Junho, Quinta A IMPERATRIZ YANG KWEI FEI, Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 15 Junho, Sexta A MULHER DE QUEM SE FALA, de Kenji Mizoguchi . M/14 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 15 Junho, Sexta FOGO DE ARTIFÍCIO, de Takeshi Kitano . M/16 Horário: 19h30 16 Junho, Sábado NINGUÉM SABE, de Kore-eda Hirokazu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 17 Junho, Domingo RUA DA VERGONHA, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 18 Junho, Segunda A ENGUIA, de Shoei Imamura . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 18 Junho, Segunda MADADAYO - AINDA NÃO!, de Akira Kurosawa . M/12 Horário: 19h30 19 Junho, Terça BOM DIA, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 14h30, 17h00,22h00 19 Junho, Terça OS SEGREDOS ATRÁS DAS PAREDES, de Kôji Wakamatsu . M/16 Horário: 19h30 20 Junho, Quarta A QUIETUDE DA ÁGUA, de Naomi Kawase . M/14 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 21 Junho, Quinta A SENHORA OYU, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 22 Junho, Sexta DR. FÍGADO, de Shoei Imamura . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 22 Junho, Sexta O EMBRIÃO CAÇA EM SEGREDO, de Kôji Wakamatsu . M/16 Horário: 19h30 23 Junho, Sábado O CONTO DOS CRISÂNTEMOS TARDIOS, de Kenji Mizoguchi . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 24 Junho, Domingo O GOSTO DO SAKÉ, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00 25 Junho, Segunda BROTHER - IRMÃO, de Takeshi Kitano . M/16 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 25 Junho, Segunda VAI, VAI VIRGEM PELA SEGUNDA VEZ, de Kôji Wakamatsu . M/18 Horário: 19h30 26 Junho, Terça ANDANDO, de Kore-eda Hirokazu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 22h00 26 Junho, Terça ZATOICHI, de Takeshi Kitano . M/16 Horário: 19h30 27 Junho, Quarta RAPAZES REGRESSAM, de Takeshi Kitano . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30 Antestreia 27 Junho, Quarta PRIMAVERA TARDIA, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 21h30 Versão Restaurada De 28 Junho a 4 Julho: PRIMAVERA TARDIA, de Yasujiro Ozu . M/12 Horário: 14h30, 17h00, 19h30, 22h00* *Dia 4 não exibe a sessão das 22h Versão Restaurada Antestreia 04 Julho, Quarta CONTOS CRUÉIS DA JUVENTUDE, de Nagisa Oshima . M/18 Horário: 21h30 Versão Restaurada De 5 a 11 de Julho: CONTOS CRUÉIS DA JUVENTUDE, de Nagisa Oshima . M/18 Horário: 14h30, 17h, 19h30, 22h Versão Restaurada Bilhetes: 6€ - Na compra de 4 bilhetes, oferta do quinto A cinematografia japonesa é das mais relevantes na história do cinema, apesar de muitos dos seus filmes se terem perdido (sobretudo do período do cinema mudo). Tardiamente descoberta no Ocidente, chegar-nos-ia, com o espanto e a admiração de quase todos, no início dos anos 50, quando Akira Kurosawa recebeu o Leão de Ouro no festival de Veneza com Rashomon, e logo de seguida com os prémios a Mizoguchi, por A Vida de O’Haru e Contos da Lua Vaga; depois na Inglaterra e EUA, em finais da mesma década, com as primeiras menções a Ozu, que ficou a ser mais conhecido já iam os 1970 bem avançados, quando Tokyo Monogatari/Viagem a Tóquio foi finalmente exibido comercialmente nos Estados Unidos e na Europa — a estreia comercial em Portugal, tal como a de outros filmes de Ozu, só aconteceria há poucos anos, pela mão da Leopardo Filmes (antes apenas estreara, em 1994, Primavera Tardia, distribuído pela Atalanta Filmes, também de Paulo Branco, e que agora veremos de novo, em cópia digital restaurada), começando aí o enorme culto do cineasta. Mizoguchi, realizador de cabeceira da nouvelle vague (Godard chamou-lhe “O melhor dos realizadores japoneses. Ou, simplesmente, um dos melhores realizadores do mundo”), teve a crítica francesa a seus pés, quando em 58 os Cahiers incluíram os Contos na lista dos melhores filmes de todos os tempos. São os três grandes mestres desta cinematografia imensa pela qual, temos, desde então, como escreveu Serge Daney (Maison cinema et le monde), “uma paixão devoradora”. Mas não foram apenas estes os clássicos “modernos” (e se Mizoguchi era venerado pelos cineastas da nouvelle vague — Rivette escreveria, nos Cahiers, na altura da retrospectiva de Paris, um texto seminal em que falava da modernidade da sua mise-en-scène que era preciso aprender —, já Ozu, como diz Daney, foi uma “fonte de inspiração para os cineastas experimentais” [“e curiosamente o mais ‘familiar’ dos cineastas influenciou a vanguarda mais desenraizada”], e Kurosawa, talvez o mais popular no Ocidente, entre a espectacularidade e a aventura, com uma “mão no passado japonês”, embora com referências heterogéneas, e uma vertente introspectiva, mais íntima, perto da serenidade, sobretudo nas últimas obras (apud Sérgio Dias Branco) era amado por realizadores como Bergman ou Fellini, ou os americanos John Ford, Coppola, Scorsese, ou Spielberg); há, por exemplo, Mikio Naruse, a ser agora (re)descoberto, com uma obra que encena a família e o mundo da mulheres. Veremos ainda filmes dos expoentes da Nouvelle Vague japonesa, a “Naberu Bagu”, Kôji Wakamatsu, Nagisa Oshima (entre outros, com a estreia, em cópia restaurada, de Contos Cruéis da Juventude, de 1960, retrato de uma juventude desencantada e rebelde, no meio das revoltas estudantis, que viria a alcançar um enorme sucesso entre o público jovem), ou Shoei Imamura. Esta “nova vaga” japonesa, mais do que influenciada pela francesa a que foi buscar o nome, correu a par e de forma completamente independente. Como escreveu Luís Miguel Oliveira (Público), “quando se vê, por exemplo, os primeiros filmes de Nagisa Oshima, rodados à volta de 59/60, chega a ser impressionante a espécie de ‘ar de família’ — e talvez até com algum avanço sobre os franceses, por exemplo no tratamento da cor e do formato ‘scope’.” Era um cinema extremamente subversivo onde o sexo e a violência “eram instrumentos (mais do que apenas ‘ingredientes’)” (LMO, ibid.). E se alguns, como Oshima ou Imamura, viriam também eles a tornar-se “mestres”, Wakamatsu, de quem veremos 7 filmes emblemáticos, e que produziu O Império dos Sentidos, de Oshima, continuou a causar polémica com os seus últimos filmes, ambos apresentadas no Festival de Berlim, O Bom Soldado (2010; Urso de Prata Melhor Actriz)) e Exército Vermelho Unido (2007), que vieram em muito contribuir para a redescoberta do seu “cinema da revolta”. É a todas estas tradições que os novos realizadores nipónicos vão beber para as suas obras. Takeshi Kitano, cineasta e actor, afirma-se nos anos 90, com um cinema simultaneamente “brutal e cândido” (Vasco Câmara, Público), entre as histórias de gangsters (yakuzas) e uma espécie de vaudeville burlesco (por exemplo, em O Verão de Kikijiro, onde alguns viram influências de Buster Keaton, Kitano declara-se profundamente japonês), ao melodrama de Hana-Bi / Fogo-de- Artifício (Leão de Ouro de Veneza em 1997), ou ao “filme de fantasmas”, Dolls. “Cineasta de aparições e fantasmagorias”, Kiyoshi Kurosawa, de quem acabámos de estrear O Segredo da Câmara Escura, “uma história de amor assombrada pelo espírito da fotografia oitocentista de Louis Daguerre” (Luís Mendonça, À Pala de Walsh), que o cineasta veio filmar em França, é, hoje um dos mais brilhantes cineastas do terror. “Um terror materialista, quase primitivo, que aspira a um eterismo enigmático (…) que se baseia num dispositivo extremamente rudimentar de efeitos para produzir a sua muito concreta dimensão ‘fantástica’. Os espectros são como gente, confundem-se connosco, porque andam, falam e… beijam como nós.” (LM, ibid.) Vamos também ver Rumo à Outra Margem (Cannes 2015, Prémio Melhor Realização da Secção Un Certain Regard), filme de fantasmas (Ysuke é um fantasma de uma “beleza solar”, vestido com as suas roupas, que fala, caminha, senta-se, come, suspira, abraça a mulher), filme que ruma às origens do cinema, esse “reino das sombras”. Hirokazu Koreeda (que acaba de vencer a Palma de Ouro em Cannes), e que começou por ser documentarista, mas viria a afirmar-se na primeira década deste século com o filme Ninguém Sabe (2004, Prémio Melhor Actor em Cannes), é, podemos dizê-lo, um dos contemporâneos que tem vindo a afirmar-se como um dos mais evidentes herdeiros do cinema clássico japonês, sobretudo o de Ozu e Naruse, mas também o de Mizoguchi e Kurosawa. Também Naomi Kawase, outra das cineastas nipónicas com presença habitual nos grandes festivais de cinema, a partir da segunda década deste século, começou no documentário, tendo depois passado à ficção, onde cruza, com uma sensibilidade poética única, o mais profundo da “alma japonesa” com o Japão contemporâneo. Estrearemos o seu novo filme Esplendor (Cannes 2017, Prémio do Júri Ecuménico), filme luminoso e delicado sobre uma jovem que escreve versões de filmes para invisuais e um fotógrafo mais velho que aos poucos está a perder a visão. São as fotografias deste que os aproximarão de forma muito particular. Uma mostra onde veremos filmes de samurais, filmes de yakuzas, filmes de aventuras, filmes eróticos, filmes de família, filmes de fantasmas… Voltando a Daney (também no próximo parágrafo): “Belo percurso”, este. “Uma pessoa não se torna especialista do cinema japonês, ama-se o Japão, body and soul.” Yôkoso よ う こ そ