Objetos de Escritórios Séc. XX. História, Memória e Identidade Há objetos com história, memória e identidade que marcam épocas. Há objetos que identificam pessoas e o quotidiano de outrora, de determinadas atividades e de determinados setores, ligados a Instituições públicas ou privadas, que reavivam a memória dos que, diariamente, lidaram com esses mesmos objetos, e que transportam as gerações mais novas para realidades que lhes são desconhecidas, embora a distância que os separa seja, apenas, de décadas. A presente exposição pretende apresentar uma viagem ao século XX, a partir da seleção de um conjunto de objetos e equipamentos que marcaram a vida quotidiana, associada ao ambiente de trabalho em escritório. Pretende-se, deste modo, dar conta do testemunho de alguns objetos, icónicos na História da Tecnologia e das Comunicações e que, embora obsoletos, são hoje considerados vintage e artigos de Museus e de colecionadores. Datados desde a primeira metade do séc. XX, os objetos expostos resultam do levantamento e recolha feito em algumas instituições públicas, privadas e particulares. Muitos destes foram recolhidos em diferentes espaços da nossa academia, alguns pertencentes a docentes e a gabinetes de trabalho dos próprios serviços e departamentos da Universidade de Évora, outros, gentilmente, cedidos por particulares ligados à Instituição, e exterior a esta. As peças expostas evidenciam, assim, o modo como ao longo das várias décadas do século XX fomos comunicando, registando e arquivando a informação e o conhecimento. Desde há muito que o homem, alicerçado no seu objetivo de vencer a própria natureza humana, se instiga a criar engenhos que lhe permitam chegar rapidamente a lugares inacessíveis, mas que nunca alcançaria sem a sua capacidade criativa para inventar. Num passado não muito longínquo, a necessidade de comunicar, registar e arquivar informação e conhecimento permanecia, maioritariamente, restrita aos ambientes de escritório, deixando para os ambientes privados os longos serões e as longas tertúlias onde, ainda, era possível, através da palavra, partilhar informação e conhecimento, com base na confrontação e no debate de ideias, sem o uso do subterfúgio mecânico, ou virtual, como acontece nos dias de hoje. Em pleno séc. XXI, a comunicação e o registo da informação e do conhecimento ultrapassa em larga escala o ambiente de escritório, uma vez que nos é possível arquivar e comunicar através de plataformas online em qualquer parte do mundo. O escritório da nova era digital é, assim, bem mais permeável a contradições e bem mais flexível, não apenas, pelo massificar e intensificar dos novos canais tecnológicos que nos permitem produzir múltiplas interpretações e possibilidades num clic, mas também porque não se restringe a um único espaço físico, e em boa parte, pode até ser apresentado ou representado através de estruturas de outsourcing num qualquer aprazível horizonte sem fim, produzindo, igualmente, valor. Tal como no passado, atualmente, objetos e equipamentos de escritório são reveladores da evolução da tecnologia e são marcas da mesma no tempo. Computadores, telefones móveis, smartphones e pc’s portáteis refletem a gradual transformação no modo como hoje comunicamos e organizamos a informação e o conhecimento, o que tem vindo a intensificar e a transformar o modo como as sociedades do século XXI, marcadas que estão pelo consumo do imediatismo e pelo uso da imagem em detrimento das palavras e das pessoas, interagem num mundo capaz de cruzar e criar múltiplas leituras e interpretações. O uso das novas plataformas e das novas tecnologias para os mais variados fins são hoje uma realidade em crescente mutação que, através da crescente massificação, e apesar de potenciarem benefícios e curas, encaminham e circunscrevem, em determinados contextos, o declínio da palavra e do pensamento com análise crítica. Em detrimento do pensamento fundamentado na razão crítica, e na ciência, assistimos hoje ao rápido e efémero avanço do acismo, do jogo da contrainformação e uso da imagem como arma de arremesso, que banaliza a multiplicidade, em oposição à diversidade, originando a multiplicação de massas acríticas, e sobretudo pouco tolerantes ao outro. Nesse sentido, importa ressalvar que os objetos e os equipamentos de que damos conta na exposição fazem parte de realidades que foram, objetivamente, sofrendo inúmeras e profundas transformações ao longo de um século. E que apresentar o seu legado histórico impõe, porém, não nos limitarmos a descrever as suas qualidades técnicas, uma vez que os objetos nos permitem percorrer e refletir, também, aquelas que são as múltiplas repercussões da sua utilização num mundo emancipado, civilizado, e capacitador de (de)equilíbrio humano. RuteMarchantePardal Serviço Dinamização Cultura| Biblioteca Geral UÉ (Patente na Sala de Exposições do Arquivo - Biblioteca Geral Universidade de Évora| Colégio do Espírito Santo. Das 09h às 17h00. De Seg a Sex - Gratuito)