Não é que estejamos com atraso: é que o Verão está a dar de si, não obstante as temperaturas ainda deixem saborear barrigadas de sol. Os festivais já se foram, as festas nas piscinas também, os barcos vão ao largo... Só por causa disso, daqui a nada, as folhas começarão também a cair.
Este Verão não foi muito diferente dos outros, havendo um corridinho de festa a respeitar, desde os santos aos já tão populares festivais de música, que cobrem as férias de muitos – mais dinheiro houvesse para se ir dançar para outras paragens, seguindo a tendência do turismo musical que a nossa geração bem leva na mochila.
O nosso último festival não foi bem o último. “Os últimos são os primeiros”, pudesse aqui aplicar a inversão infantil que põe o seu a seu lugar. Dá-se o caso do Neopop ter sido o último, mas aquele que para mim vem em primeiro (mesmo dando o passo nos restantes, de palco em palco e com agenda marcada).
Foto por Ana Castanho
O Neopop tem sido protagonista de uma romaria a Viana do Castelo, comparável ao auto de fé dedicado à Nossa Senhora da Agonia. Mas quem lá vai tem fé nos beats e graves que batizam o festival como um dos mais relevantes do panorama da música electrónica a nível ibérico. E se de “Anti” para “Neo” se registaram diferenças, pode-se dizer que essas se apuraram pela relevância que o tecnho, electro, house e suas congéneres têm conquistado, merecendo, mais do que um palco, um festival em nome próprio.
O Neopop Electronic Music Festival chegou-nos este ano com conceito renovado para quem lhe segue o rasto. MADE OF YOU: um festival feito de aficionados que dão corpo e alma à dança, à pista e à música – afinal, quem vem dá de si provas de uma paixão maior, esticando o fôlego até as palmas dizerem que é hora de ir. Há quem ali tenha deixado o coração... logo, bons ingredientes não faltaram.
Foto por Miguel Meira
O primeiro dia, claramente marcado pela velha escola do techno, teve uma das melhores introduções possíveis. Seth Troxler, o enfant terrible que tanto pode circular entre o house e o disco-funk como entre o techno e o acid, soube preparar o terreno ao pôr do sol, numa viagem que – diga-se – podia ter ficado por ali. Porque foi bom, imprevisível, despretensioso, bom. No seguimento, já tudo parecia enquadrado para fechar a banda sonora. Dubfire, Oscar Mulero ou DVS1 são nomes que temos procurado seguir pelos clubes em Lisboa e no Porto e que, por isso, tão bem nos souberam reunidos de uma assentada, em ambiente bem composto para uma quinta-feira (a mais quente que já se sentiu a Norte, por aquela altura).
De resto, vimos subir as expectativas, essencialmente por dois motivos: Paul Kalkbrenner, “O Desejado”, e a esperada revelação do que seria o último dia sob o cunho Red Bull Music Academy. Se de Kalkbrenner a minha paixão pode suscitar ódios, saltamos também Loco Dice e Paco Osuna, nomes épicos com presença obrigatória.
Fiquemo-nos, assim, pela cereja no topo do bolo... porque sabe bem recordá-la.
Vídeo por Red Bull Music Academy
Sábado fechou com um palco reinventado, florestado, tomado de assalto por nomes que trouxeram um acrescento à programação. Tem sido essa, aliás, a estratégia Red Bull Music Academy que, desde há 3 anos para cá, tem sabido incluir e sublinhar o seu selo em Viana. De destacar Mathew Herbert, numa descarga forte e disruptiva para ouvidos menos preparados, logo ao começo da noite. O “Transformer” vai do downtempo ao house com notas de jazz trazidas para a electrónica, para desassossego dos demais. Um interlocutor à altura dos dois grandes combates da noite, que igualmente nos desassossegaram o passo: Sherwood & Pitch, num confronto de gerações, e Andre Weatherall B2B com Ivan Smagghe, old schoolers as good as they get.
Se hoje faz sol e estamos a tentar repescar um pouco do calor das andanças de Agosto, não deixamos acabar o Verão sem recordar e antecipar o que de bom ainda está para vir. Pode faltar um ano, pode esse ano dar muita volta, mas que não nos falte o fôlego para os dias 14, 15 e 16 de Agosto de 2014: são datas já confirmadas, que nos devolvem o sorriso à cara e o formigueiro aos pés...
Havemos de ir a Viana. Outra vez!