Encerrados nas profundezas do nosso laboratório, bem abaixo do nível do mar, através dos óculos de massa preta e com os olhos semicobertos por fartas e geniais cabeleiras, conseguimos ainda assim assistir perplexos ao modo como, saque após saque, se encosta um país à parede até ao ponto em que os próprios suspiros pagam imposto.
Em reflectido silêncio e alimentando-nos principalmente de frutos secos, redesenhámos estratégias, invertemos impulsos e, a partir da reutilização de embalagens de produtos lácteos, projectámos uma ferramenta inspirada nas lendas e mitos da nossa dimensão.
Desenvolvemos a Viral Agenda para apresentar de forma clara e organizada a abundância de eventos culturais criados por um povo que, embora enfrentando tais obstáculos, não desiste ainda assim de produzir cultura. Desenhámos paralelamente um Sistema Imunitário, destinado a promover a reflexão sobre o estado actual da cultura em Portugal e a divulgação dos mais funambulescos projectos culturais portugueses.
Nesta fase de incubação, escolhemos os distritos de Lisboa e do Porto como zona de testes para as nossas actividades virais, visto serem aqueles onde a desmultiplicação de eventos se revela mais desenfreada. Como um surto de escarlatina num infantário sem janelas, a epidemia não tardará no entanto em alastrar-se aos restantes distritos do país.
Desde que saiu a descoberto, a plataforma Viral já não nos pertence: ela é a sauna finlandesa do filantropo, a tenda berbere do amante de cultura, o chalé virtual do criativo, e uma arma de arremesso cultural de alcance forte, fraco ou moderado, conforme a utilização que se lhe dê: compete agora às entidades promotoras de cultura usar e abusar deste caldo nutritivo padrão para a promoção contagiosa de eventos.
De regresso aos nossos tubos de ensaio, microscópios e aceleradores de partículas, despedimo-nos provisoriamente, para de novo nos perdermos nas linhas de código onde, de bactéria em bactéria, desenhamos o futuro da recém-nascida plataforma Viral.
Saudações esdrúxulas,
Os Irmãos Génios