O que é um sem-abrigo senão alguém como vocês e como nós mas que vive na rua? Quantos lhes viramos ainda a cara, num esforço simultaneamente ingénuo e cruel para nos distrairmos do facto de que quem ali está a dormir ao frio é, efectivamente, filho de alguém, pai de alguém, avó de alguém?
Contrariamente a preconceitos ainda tão amplamente partilhados, esta situação extrema de exclusão nem sempre se deve a problemas relacionados com o álcool ou com as drogas, estando a sua origem frequentemente associada a outras causas – acidentais, económicas ou estruturais – como os conflitos familiares, o desemprego ou as doenças físicas e mentais. Não será tampouco difícil traçar uma correspondência directa entre as causas últimas deste fenómeno e as esferas mais celestes da vida pública, mas não nos alarguemos hoje por aqui.
Calcula-se que existam actualmente cerca de 1300 sem-abrigo no Porto e, apesar dos esforços de numerosas instituições para lhes providenciar alimento, escasseiam ainda outros tipos de apoio, especialmente aqueles que promovam a reinserção social e que visem pôr em prática eventuais estratégias de saída.
Foi precisamente nesse contexto que surgiu a WelcomeHOME, uma cooperativa de solidariedade social sediada no Porto que promove sobretudo a empregabilidade dos cidadãos em situação de sem-abrigo, através de programas relacionados com a formação e a criação de negócios sociais.
A par de projectos arrojados e bem-sucedidos como as WelcomeHome Tours – em que cidadãos sem-abrigo aplicaram a sua experiência e visão da Invicta à realização de rotas turísticas singulares – a WelcomeHome apresenta agora uma linha de sacos de pano ilustrados por quatro dos mais bem-amados street artists da cidade: Hazul, Godmess, Chei Krew e Costah.
Esta iniciativa vem já na sequência de uma linha de merchandising da qual figurava uma colecção de postais em formatos 10x15 e Polaroid, elaborada a partir de fotos realizadas por um grupo de ex-sem-abrigo no âmbito de um workshop de fotografia.
Os produtos disponibilizados pela WelcomeHOME podem ser adquiridos através dos respectivos website, facebook ou email, e de plataformas online como a Compra Solidária. As receitas revertem, como seria de esperar, para o financiamento das actividades da cooperativa, nomeadamente nas áreas da formação e empregabilidade de cidadãos sem-abrigo. Cada postal custa apenas um euro e cada tote bag fica por dez: aproveitem agora que a edição é limitada e ajudem mais um pai ou avó a encontrar um possível caminho para sair da rua.