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Music Azores 2023 | Florian Berner

Music Azores 2023 | Florian Berner

MUSIC AZORES 2023

"Duas vozes que se amam. Uma voz tem um poema, que nos fala à alma, sobre amor e a proximidade com Deus. A outra voz tem o som de uma flauta-baixo. Ambas as melodias se fundem numa única harmonia que liga o mundo físico e o espiritual através da música."

Antero Ávila

Agora que o outono já fez esquecer os inusitados festivais de verão, chegou a altura de ouvirmos música verdadeira. Por isso, venho propor aos leitores deste jornal que assistem aos concertos de Music Azores 2023, a decorrer em novembro próximo, que combinará música antiga com música dos nossos tempos, trazendo-nos a música que menos ouvimos, por ser a mais longínqua e a mais recente.

Refiro-me aquela música que comunica emoções, ideias, sentimentos e estados de alma. Isto é, a música que propicia um diálogo entre os sentidos e valoriza as nossas relações com a autenticidade das coisas. Mas evitemos ceder à tentação das classificações: não há uma música dita clássica por oposição a uma música dita contemporânea. Bach, Haydn, Mozart, Beethoven e Chopin compuseram música contemporânea. Não lhes passava pela cabeça que estariam a compor música clássica ou música dissonante e tonal… Limitavam-se a dialogar com a contemporaneidade e a fazer boa música, desconhecendo de todo o que alguns teimam em chamar de “música erudita”.

Por conseguinte, as fronteiras que podem separar a música são a da qualidade, pois, independentemente do carácter subjetivo dos julgamentos qualitativos, há que considerar que apenas existe música boa e música má, e tudo o resto não passa de género ou de estilo.

Os dias que correm são de penúria a vários níveis. A cultura é sempre a mais castigada (porque não dá votos…) e vive tempos de parcos meios e de apoios suprimidos... E, no entanto, há gente a remar contra a maré da indiferença, produzindo coisas como Music Azores 2023, numa clara aposta na música de qualidade. Segue, abaixo, a lista de intérpretes, calendarização e locais de atuação:

1. CANTANDO ADMONT

Grupo vocal austríaco de primeiríssima água, com notável repertório que vai da música medieval e renascentista, passando pela música barroca até à música contemporânea. Perfeito equilíbrio das vozes, eficácia nos diálogos musicais, boa dinâmica, bonitos coloridos tímbricos, sonoridades límpidas e abertas, belíssimas harmonias.

PICO, 6 de novembro, 21h00, Lajes do Pico, Auditório do Museu dos Baleeiros.

FAIAL, 7 de novembro, 21h00, Horta, Igreja de Nossa Senhora do Carmo.

TERCEIRA, 9 de novembro, 21h00, Angra do Heroísmo, Igreja da Misericórdia.

SÃO JORGE, 10 de novembro, 21h00, Calheta, Igreja da Matriz de Santa Catarina.

SÃO MIGUEL, 12 de novembro, 17h00, Ponta Delgada, Salão Nobre dos Paços do Concelho.

SÃO MIGUEL, 13 de novembro, 21h00, Palácio de Sant’Ana.

Em música não há acompanhamento, há diálogo. O casamento perfeito entre voz e instrumento é, deste modo, referido por Andreas Karl e Beat Furrer: “A flauta-baixo como ressonância da voz é, por assim dizer, uma extensão da laringe do cantor. Flauta e voz combinam-se com sons de consoantes ruidosas e percussivas, dos sons da respiração ao som cantado, a tal ponto que se tornam um só, complementando-se em sua polifonia – como se a flauta fosse uma ou mais vozes da cantora que aos poucos encontra a sua expressão discursiva. Em mudanças abruptas de expressão, da terna à mais exigente invocação, ela sussurra, grita e canta o maravilhoso texto de Juan de la Cruz, o místico espanhol do século XV.”

2. FLORIAN BERNER (violoncelo)

A verdadeira arte é uma permanente revolução. Fazer arte é uma aventura e é um risco (é como dar aquele fá agudo da Rainha da Noite da ópera “Flauta Mágica”, de Mozart). O violoncelista austríaco Florian Berner é grande porque recusa o conformismo e enveredou por essa aventura e por esse risco. Mundialmente conhecido, ele é uma referência incontornável, com destaque para as 6 Suites para violoncelo, de Johann Sebastian Bach.

Segundo aquele músico, “a mestria de Bach em fazer o violoncelo cantar, falar e dançar, em escrever música polifónica para um instrumento melódico e em explorar esferas de profunda emoção, alegria, fé e transcendência é inigualável. No entanto, sempre foi um desafio escrever música não acompanhada para este instrumento. Duas composições de tempos mais recentes serão enquadradas pela música de Bach: o Lux Aeterna do "Requiem para violoncelo solo" de Peter Sculthorpe e o "Tombeau for an artist" de Ralf Yusuf Gawlick, que foi escrito para Florian Berner, intérprete deste programa”.

SÃO JORGE, 4 de novembro, 21h00, Calheta, Museu Francisco de Lacerda.

GRACIOSA, 6 de novembro, 21h00, Sala de Exposições da Biblioteca Municipal de Santa Cruz da Graciosa.

TERCEIRA, 8 de novembro, 21h00, Angra do Heroísmo, Igreja da Misericórdia.

SÃO MIGUEL, 10 de novembro, 21h00, Ponta Delgada, Igreja do Colégio.

Uma coisa é certa: em Music Azores 2023 não escutaremos música previsível e acomodada – aquilo a que o meu amigo maestro António Vitorino de Almeida chama ironicamente de “a cultura musical do Für Elise (Beethoven) e da Marcha Turca (Mozart)”, – bem pelo contrário: teremos música com substância e não adornos; com ideias e não efeitos. Os concertistas, atuando por via da sensibilidade e da emoção, sabem que a música não vale por ser nova, mas por ser boa. Por isso nunca põem a originalidade à frente da qualidade.

Da minha parte continuo utopicamente a pensar que a música pode ser fator de transformação do mundo.

Victor Rui Dores

Fonte: https://www.culturacores.azores.gov.pt/agenda/default.aspx?id=45373
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