A Galeria Francisco Fino tem o prazer de anunciar a inauguração de Canil, exposição individual de Henrique Biatto, com curadoria Ana Grebler, no espaço Belo Campo. A exposição inaugura a 17 de fevereiro, sábado, entre as 14h00 e as 19h00. Belo Campo é um espaço epífito para culturas contemporâneas iniciado e dirigido pelo artista Adrien Missika e acolhido pela Galeria Francisco Fino. Está localizado na cave da galeria, numa antiga adega. Belo Campo é uma estrutura sem fins lucrativos que tem como objetivo infundir e difundir ideias, experimentar com o espaço e o tempo, propor e questionar formatos de culturas contemporâneas. Folha de sala Tudo, aliás, é a ponta de um mistério.1 Grades e ruínas antecipam a atmosfera áspera do anexo subterrâneo. No lugar de uma antiga adega, um corredor sem saída esconde vestígios de um outro tempo, destilam as sensações ambíguas de um delírio. Partindo do diálogo com o espaço da Belo Campo, o desenho instalativo de Henrique Biatto se desenvolve entre as frestas e as marcas deixadas nesta superfície crua, essencial. Canil, primeira individual do artista em Lisboa, reflete hierarquias e estruturas que atravessam as relações por meio de ferramentas de controle, onde armas naturais de defesa e ataque surgem como instinto de sobrevivência. Há sempre um lado mais frágil. Passando por escapes e armadilhas das profundezas da natureza humana, no encontro de diferentes matérias, tensões entre limite e equilíbrio vem à tona. Levando em conta a ação e reação que conduz aspectos de interação entre as espécies, indícios mordazes revelam um espelho do eu e do outro, na forma e contraforma das pequenas coisas que se tornam. Objetos encontrados transmutam-se incorporando acasos em composições que entrelaçam instantes sutis. Reflexões sobre o tempo e a espera se estabelecem. Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.2 Daquilo que não se vê — ou que tende a permanecer escondido - pode-se dizer a energia que precede estes instantes ou o invisível que orienta os gestos. Instrumentos de trabalho e utensílios cotidianos em diálogo com a cerâmica incorporam, junto à dualidade artesanal x industrial, nuances de uma experimentação contínua. No fazer artístico, como aqui, o compasso do tempo é outro. Ao evidenciar os rastros do processo, elementos e trivialidades apontam a ideia de habitar a prática. Em Canil, a noção espacial atuante sobre o trabalho de Biatto se introduz nas obras que, seguindo pistas, integram-se ao ambiente da Belo Campo. Das ativações que envolvem e das percepções que instigam, vislumbra o ténue contraste entre brutalidade e delicadeza, como o corte de uma presa afiada. Quando o interfone toca, os cães ladram. Ana Grebler 1 ROSA, João Guimarães. O espelho In: Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 2 Ibid.