Teresa Milheiro convida Maria Antónia Oliveira ; Zambeze, Suzie Peterson ( Suzie Guarda-roupa ) , Manuel Costa Cabral e Tó Trips . Exibição das curtas metragens /documentários : - A passagem para um outro lado. - ARTE OCUPA_SP_Teresa Milheiro Desde muito pequena que gostava de jóias e objectos, gostava de encontrar coisas antigas e velharias em casa dos meus avós, na cozinha velha, no sótão ou na arrecadação, adorava perder-me entre as malas velhas, encontrar objectos e roupas de outros tempos e imaginar a sua história. Nessa época já gostava criar os meus próprios bonecos, de reutilizar objectos, transformá-los e dar-lhes outra utilização. O mesmo fazia com as roupas militares do meu pai e do meu avô. Mais tarde em 1984 entrei na escola António Arroio onde fiz o curso de Artes do Fogo e me apaixonei pelos metais. Aí também encontrei a maior parte dos amigos que ainda hoje mantenho e comecei a ter convicções anarquistas. Aderi ao movimento Punk nessa altura. Em 1987 entro no Ar.co para fazer o curso de joalharia durante 4 anos. A minha vida pessoal e as experiências pelas quais passei nesse período foram influenciando o meu trabalho. Desde cedo que comecei a imprimir em tudo o que fazia statements muito fortes ligados à sociedade e a todo o meio que me rodeava. Em 88 vivi 4 meses em Amsterdão numa casa ocupada. Voltei para Lisboa, entrei no 2º ano do Ar.co e saí de casa. Comecei a fazer jóias de auto-defesa. No 3º ano recebi uma bolsa de estudo e no mesmo ano assassinaram o meu namorado à minha frente. Começo a ser convidada para exposições, mas o trauma e a revolta com a recente perda fazem com que não dê muita importância a todos esses convites. Começo a desenvolver jóias de tortura. Acabo o Ar.co em 1991 e decido ir para Berlin onde fico dois anos, apanho toda a transição, a queda do muro, e vivo em várias casas, algumas ocupadas outras não. Quando volto para Lisboa, decido voltar a estudar fazer o 12º ano á noite na António Arroio. Pelo meio fui participando em mais exposições. No final de 1994, junto-me a um grupo de amigos e conhecidos que queriam alternativas às galerias que existiam em Lisboa e fundamos a Galeria Zé dos Bois de onde acabo por sair passado um ano. Em 1997, nasce a minha filha Sara. Em 1998 comecei a trabalhar para a Archeofactu, onde fiz colecções de Joalharia para instituições e Museus. Estive nesta empresa durante 9 anos e paralelamente continuei a desenvolver o meu trabalho. Em 2001 nasce a minha 2º filha, Eva que morreu com 2 meses. Em 2003 tive os meus dois filhos Hugo e Vasco. Em 2004 começo o projecto das marionetas com apoio da Gulbenkian, subsídio atribuído pelo Manuel Costa Cabral através do Serviço de Belas Artes. Pelo meio fui sempre participando cada vez mais em projectos e exposições, tendo em 2007 aberto a Galeria ARTICULA em Alfama. Fui gerente da galeria onde promovi o meu trabalho, e o de mais de 40 artistas nacionais e internacionais. Organizei várias exposições nacionais e internacionais, sempre sem qualquer apoio. A ARTICULA durou até 2012, ano em que decido fechar, pois com o aprofundar da crise ou transformava a Galeria numa loja comercial para o Turista ou ia à falência. Preferi fechar, quis manter-me fiel aos princípios e não desvirtuar o meu projecto. De momento trabalho em casa e continuo a participar em exposições internacionais. O meu trabalho continua a ter uma forte crítica social, em relação à obsessão pela imagem, a alienação das pessoas e ao modo como vivem. Continuo a utilizar as minhas peças como grito de guerra, continuo a expressar através delas o que penso política e socialmente. Eu sou o meu trabalho e o meu trabalho sou eu. É quase impossível dissociar as duas realidades. O meu trabalho é o meu balão de oxigénio. TERESA MILHEIRO