PRELÚDIO
Escrever sobre imagens é correr o risco de ser redundante. E, escrever
sobre fotografias pode mesmo ser desconcertante se (des)orientar a
fruição única devida a cada pessoa que se disponha a ouvi-las.
Se uma imagem valesse mais do que mil palavras para quê escrever
sobre elas?
Nas imagens também haverá palavras e melodias, se no seu silêncio a poética nidificar.
Vamos então escrever sobre a obra fotográfica do Rui tentando fintar a redundância e o desconcertante.
Mas, antes de mais, ainda há que registar uma prévia declaração de
interesses de quem viu crescer este ser numa serena localidade
rodeada pelo mar, banhada por ventos agrestes povoados por ecos
do espraiar das ondas no areal e pelos guinchos das gaivotas sobre os barcos a aportar para as azafamas da lota enquanto decorria a
magia da revelação na alvura do papel nos líquidos de uma câmara
escura. Cumplicidades.
Desses pedaços de espaços são arquitectados com a perspicácia de
quem faz a simbiose da natureza com o corpo que a habita, numa
aparente solidão, onde a poesia esvoaça.
Dos trilhos deste seu caminhar, enquanto cada momento escapa, vão saltando as sonoridades silenciosas dos acasos procurados nos
instantes que liberta quando os captura.
Há uma ética na sua estética que absorvendo referências várias, as
integra depuradas na verdade da sua subtil voz e que nos soltam os
sentidos num singular apetite de procurar o que não está explicito.
Nesse desafiar a desvendarmo-nos nas suas fotografias, oferece a sua estima e nos abraça como criadores do sentido nosso. Não descreve ditando o que devemos “armazenar”. Apenas resgata sementes de instantes para não escaparem aos humos dos abrigos dos olhares alheios como ninhos de poesia.
A depuração que alcança está carregada de elaboração. Faz
estremecer por dentro, porque desfaz o espanto que bloqueia e liberta a criação no observador.
É por isso que aqui nos encontramos em “AS THIS MOMENT SLIPS
AWAY”.
Isabel SilvaDirectora do Centro Cultural Emmerico Nunes de Sines
A série fotográfica “As This Moment Slips Away”, foi desenvolvida
durante o período de “pandemia” e aborda sentimentos de incerteza, medo, perda mas também de descoberta, oportunidade,
autoconhecimento, tomadas de consciência e de escolhas.
A série ganhou corpo em paralelo com a situação global que vivemos, mas acima de tudo também num campo mais introspetivo, poético e espiritual.Rui Pereira