A voz. Manifestação e expressão de vontade pessoal e/ou colectiva. Instrumento milenar. Younes Zarhoni faz uso da mesma de uma forma peculiar. Objecto artístico. A força porque na fragilidade. Momento transcendental. O presente constrói-se na redescoberta e reinterpretação das memórias. Na mesma noite, Crisálida, um dos mais sedutores projectos que escutámos recentemente. O interior, geográfico, mas também pessoal, sem necessidade de cair em clichés ou modas. O ‘eu’ é, ainda, uma longa estrada.
YOUNES ZARHONI | Instalações com paixão pelas vozes, pela história dos repertórios vocais/polifónicos e pela sua relação com o público e o espaço. Crio esculturas sonoras compostas por músicas polifónicas. Peças vocais polifónicas e heterofónicas que eu próprio componho, que depois são cantadas e gravadas por mim. Oito a dez vozes gravadas separadamente. As composições são, por um lado, uma interação entre maqams (o sistema harmónico microtonal para estruturar composições musicais em música clássica árabe, persa, otomana,...) e harmonias musicais ocidentais. A partir deste encontro entre diferentes estilos e tradições de canto, destilo uma forma altamente pessoal e híbrida de vocais heterofónicos. As linhas vocais são tocadas por 4 a 8 altifalantes estrategicamente colocados na sala. Cada altifalante transmite 1 ou 2 vozes. As linhas vocais interagem com o contexto espacial, tanto visual quanto acusticamente.
Ultimamente, tenho adicionado uma dimensão performativa ao vivo numa configuração quadrifónica. Há, também, um lançamento de um vinil planeado para o final de maio de 2024.
https://soundcloud.com/younesz/sets/polyphonics | http://youneszarhoni.com/sound-installations | http://youneszarhoni.com/chapel-grand-hospice-2
CRISÁLIDA | Termo que deriva da coloração metálico-dourada encontrada nas pupas das borboletas, na sua terceira fase da vida — a fase onde quase não se movem. Embora muitas crisálidas de borboletas movam os seus segmentos para reproduzir sons que afugentam predadores, esta crisálida não é diferente, é estado de latência e embrião. Aguarda que algo se defina para ter bravura de sair dessa casca protetora. Até voar, nela se esconde, nunca adormece, embala-se com fitas de cassete e acordes de órgão enquanto descobre como e onde está a sua voz.
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