Dobra é uma performance-palestra em que o conferencista começa por contar uma viagem onde teve a sensação de ser perseguido pela sua dupla maléfica, o seu doppelganger. Enquanto assistia a filmes franceses, dobrados em japonês, apaixonou-se por um designer de móveis desempregado que ganhava a vida a trabalhar em filmes de ação, enquanto duplo de um ator famoso. Aqui, o conferencista duplica-se. As palavras desdobram-se. O que está a ser contado transforma-se numa dança, as histórias transformam-se em gestos no espaço. Dobra é uma peça que, de forma subtil, coloca em confrontação a possibilidade de manipulação, desde a tradução até à duplicação, pondo em evidência a possibilidade de falsear tudo o que é realidade. “A dobragem atrai-me como técnica de tradução, mas também como objeto plástico. Considero que dobrar uma voz é um ato político. Contrariamente às legendas, que permitem voltar à origem e fazer a nossa própria interpretação, a dobragem apaga ou desvanece o original. A nova voz substitui a primeira, tomando o poder. A dobragem cria uma nova identidade. Em Dobra, quero trabalhar em dois níveis que se influenciam: o texto e a situação performativa”, escreve Romain Beltrão Teule.
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