“A Peça (em 4 Turnos)” é uma peça sobre opressores e oprimidos, sobre patrões e operários, sobre o medo e a delação, a luta e a resistência, mas também sobre a liberdade (e a libertação), o amor, a amizade e o companheirismo. “A Peça (em 4 Turnos)” revela-se uma reflexão sobre o compromisso que a arte, em particular o teatro, deve ter com as pessoas, a lembrar Brecht ou Sttau Monteiro. Por isso, em cena, há operários que, nas (escassas) horas livres, são atores – ou pretendem sê-lo. Para driblar a opressão. Para enfrentar a vigilância do Estado e da Igreja. Para contrariar a monotonia. Para se fazerem ouvir. Para poderem ser o que quiserem, tendo a ilusão de que, sendo outros, o mundo é mais justo e os dias menos penosos. Para acordarem e agitarem consciências. Para que as pessoas abram as cabeças. São operários de punho erguido, com “consciência operária”, como alguém refere na própria peça. Neste novo trabalho da Peripécia Teatro, entretecem-se fios de diferentes épocas e diferentes vozes. Nele, evocam-se as ditaduras de Salazar, de Franco e de Pinochet e os poetas, de cá e de além-mar, que os ditadores torturaram e mataram, mas não silenciaram, porque vivem na memória das gerações seguintes. “A Peça (em 4 Turnos)” é (ainda) sobre o nosso tempo, pois enquanto houver opressores e oprimidos não podemos deixar que a cortina se feche.