O Festival Semibreve, organizado desde 2011 pela AUAUFEIOMAU com o apoio da Câmara Municipal de Braga, afirmou-se como um evento incontornável no panorama da música eletrónica exploratória nacional e internacional da última década.
Ao abrigo de programas pensados a partir das especificidades locais e patrimoniais da cidade de Braga, respeitando princípios de inclusividade, diversidade e comunidade, o Semibreve apresentou, ao longo dos anos, espetáculos, encomendas e instalações por alguns dos mais relevantes artistas da atualidade, mantendo igualmente um papel ativo da promoção da arte digital no Norte de Portugal.
Caminhando por entre a família da editora Príncipe, uma grande teia de relações liga alguns dos seus artistas através do uso orgulhoso do sufixo. De certo modo, uma homenagem de muitos “foxes” a DJ Marfox, mostrando respeito e admiração por quem trilhou primeiro e serviu de guia para outros caminharem. Seria tudo menos inesperado encontrar Van Der nesta árvore genealógica, uma vez que confessa que foi o seu primo DJ Marfox quem deflagrou a sua paixão pela música. Ironicamente, a ligação de sangue não serviu para o deixar ramificado à Príncipe e desde há uns anos que tem feito uma notável aterrissagem ao techno. Entretanto, para além dos seus sets geométricos e hipnóticos, tem começado a criar música, igualmente enfeitiçante, vindo do seu amor pela electrónica modular. E é justamente desse novo território que nos traz grandiosas novidades — do tamanho da sua ambição e, sentirão depois, do tamanho da nossa admiração.
As canções de You said you’d hold my hand through the fire — disco editado este ano, enquanto também se celebra o 20.º aniversário da Hyperdub — não contam apenas uma colaboração entre dois músicos que se admiram artisticamente. Por entre as enigmáticas fissuras desta obra artística, espreitamos a crua realidade de uma relação de quatro anos que terminou e deixou, também ela, fracturas e toda uma história que nos pode ser contada. E foi neste processo de dissolução afectiva que Iceboy Violet e Nueen foram erguendo um memorial que documenta a história da sua união, expondo tanto os bons como os maus momentos. Como seria de esperar, ouvimos uma obra íntima, dorida e exposta, que navega musicalmente por entre um nevoeiro electrónico de granulado hi-fi que, por vezes, parece devolver uma prova de vida de um mundo pós-Burial. Ao vivo, esperem um exorcismo que nos empurra para finais felizes.
Parece improvável que Saya tenha chegado ao Porto há tão pouco tempo. Em pouco mais de um ano, o seu nome fixou-se numa cidade que parece já ser muito sua, dando-lhe palco, visibilidade e público para o seu trabalho. As suas actividades vão mostrando uma força artística multipotencial, como ela orgulhosamente diz e nós prontamente confirmamos, desdobrando-se num sem-número de acções fundamentais para uma cidade e cultura que se querem abertas, avançadas e justas. E como para pessoas assim o local onde estão é sempre demasiado pequeno, Saya já percorreu Portugal de norte a sul, habita diversos programas de rádio pan-continentais, e traz kuduro, electrónica experimental árabe, gqom, baile e rave funk, etc., para dentro dos seus sets cada vez mais… multipotenciais. Nascida em Santiago de Compostela, filha de pais palestinianos, Saya assume o seu activismo social, celebrando a diferença num espaço que nos junta a todos.
De Berlim já conhecemos a história do techno, de como chegou de Detroit no final dos anos 80 e, sobretudo, como ganhou raízes para criar a sua própria genealogia. Ao longo destas décadas, a cidade foi sempre sendo sinónimo de liberdade artística e o techno foi sendo a sua mais distintiva marca, ajudada por figuras que foram escolhendo a capital alemã como local seguro para trabalharem. Ziúr é uma dessas forças que tem escrito e rescrito algumas das páginas recentes da agitação berlinense. Seja pela sua recente mas prolífera produção musical em editoras como a Planet Mu ou Pan, como esclarecida e magnética DJ ou sendo mestre de cerimónias de importantes e congregadores eventos, Ziúr tem espalhado a sua urgência, pegando na vital energia techno de Berlim para a contorcer e reconfigurar, como uma delicada artesã em ambiente industrial, deixando uma pegada muito sua num terreno repleto de hipóteses.
os textos curatorias do semibreve foram escritos seguindo o antigo acordo ortográfico
hora de atuação de acordo com o horário de verão
acesso limitado a portadores do bilhete geral, bilhete diário gnration e à capacidade da sala
programa completo em www.festivalsemibreve.com
os bilhetes diários estarão à venda a 1 outubro e em quantidade limitada
horário funcionamento gnration durante o semibreve
qui · 24 out
14:00 — 18:30
sex · 25 out
10:00 — 18:30
23:30 — 03:15
sáb · 26 out
14:30 — 18:30
23:45 — 03:15
Fonte: https://www.gnration.pt/event/2024/semibreve-van-der-iceboy-violet-nueen-saya-ziur/