A Galeria Zé dos Bois apresenta The Thief’s Journal: Songs of Decreation, de Billy Bultheel, uma investigação em curso sobre as relações composicionais recíprocas entre música, espaço, movimento e o corpo ou instrumento. Escrita para nove corpos, a obra reúne um conjunto de músicos de formação clássica e de várias origens subculturais.
Readaptada especificamente para o espaço, inspira-se na obra da poeta experimental Anne Carson, que entrelaçou vozes da antiguidade à modernidade, encarnando ela própria uma arte de “decreação” de várias linguagens artísticas. “Fazer passar algo criado para o não criado”, a decreação não significa destruição. Ao escrever a música como espaço e ao ler o espaço como música, Bultheel segue este caminho tenaz de criar e não criar.
Partindo de técnicas e tradições da composição polifónica medieval e renascentista, o seu trabalho transita para os géneros da new ensemble music, noise, electrónica e metal. Ao longo das épocas e dos seus respectivos contextos sociais, estas músicas partilham uma componente religiosa ou catártica. Bultheel dirige o nosso olhar para esse momento catártico – igual, mas distintamente presente no acto de devoção e extase de perder-se nos sons industriais de uma rave de armazém. Entre o sacro e o industrial, a catedral e o armazém, encontramos Jean Genet, o dramaturgo, poeta e activista francês. Na sua autobiografia semi-ficcional The Thief’s Journal (1949), retratou poeticamente a vida de párias, condenados, ladrões e mendigos da sociedade, entrelaçando linguagem religiosa e pornográfica. A ousadia de Genet ao longo da sua vida e a sua ternura ao contar histórias e ao encarnar as sombras da sociedade tornam-se o tema coreográfico e musical de The Thief’s Journal.
Fonte: https://zedosbois.org/programa/the-thiefs-journal-songs-of-decreation/
