Dança | Entrada Gratuita * | M6
A minha mãe chama-se Miquelina e nasceu em 1935. Durante grande parte da sua vida viveu em Moçambique. Nos últimos anos foi-lhe diagnosticada uma demência. Uma realidade que tenho vivido com sentimentos contraditórios, por um lado, o medo da degradação das suas faculdades, e por outro, o permitir-me aceder a um novo patamar de entendimento, que se situa algures entre a loucura, a ternura e a cumplicidade.
Hoje olho para a minha mãe e reconheço-me mais do que nunca. O imponderável, essa loucura que por vezes me assalta, a vivência do fracasso e do ridículo, marcas que, sem saber, transportava vindas dela, e que só agora, à luz da degenerescência progressiva da sua memória, posso ver e entender.
Descobri como a minha mãe tem sentido de humor e como gosta de dançar. Juntos, rimos e fazemos disparates, as nossas maluqueiras. E, numa espécie de realidade paralela, por momentos somos felizes.
— Miguel Pereira, coreógrafo do espetáculo "Miquelina e Miguel"Org. Futurama – Ecossistema Cultural e Artístico do Baixo Alentejo
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