Exposição evocativa dos 100 anos do manifesto do surrealismo 1924-2024
Curadoria: Miguel de Carvalho
Artistas:
Allan Graubard | André Breton | Antonella Gandini | Aurélie Aura | Arnost Budik | Beatriz Hausner | Bruno Barnabé | Cristina Vouga | Cruzeiro Seixas | David Coulter | Enrique de Santiago | Eugénio Castro | Fernando Azevedo | Gabriela Albrecht Ziakova | Georges-Henri Morin | Gregg Simpson | Guy Cabanel | Guy Ducornet | Guy Girard | Hans Bellmer | Isidro Martins | Jan Gilian | Javier Galvez | Jean-Marc Baholet | Jean-Pierre Paraggio | Joel Gayraud | John Welson | Jorge Camacho | Kathleen Fox | Laurens Vancrevel | Linda Filipová | Lou Dubois | Ludwig Zeller | Luiz Morgadinho | Mário Cesariny | Mário-Henrique Leiria | Max Ernst | Michael Lowy | Miguel de Carvalho | Mireille Cangardel | Pedro Prata | Raul Perez | Rik Lina | Sarah Froidurot | Seixas Peixoto | Sérgio Lima | Susana Wald | Sylwia Chrostowska | Virginia Tentindo | Wifredo Lam | Yoan Armand Gil
Cabo Mondego Section Of Portuguese Surrealism
Capa
Cornucópia
O que diz a boca da sombra
Evocam-se presentemente os 100 anos da publicação do Manifesto do Surrealismo o que equivale a reconhecer oficialmente o ponto de partida da teorização de um movimento revolucionário que, não sendo nem artístico nem literário, visa essencialmente a libertação da existência humana e consequente transformação socio-cultural do mundo.
O surrealismo, designação dada a uma radical filosofia de vida, como se sabe, é uma forma de estar com atitude física e mental própria perante o mundo e a sociedade, fora de contextos de repressão moral, estética ou religiosa, em estreita relação com a linguagem pela criatividade na sua forma multidisciplinar. O poeta e pensador André Breton (1896-1966), foi o maior e permanente teorizador do surrealismo, encetando a ideologia com a publicação do primeiro Manifesto do Surrealismo (1924 – neste mesmo ano antecedeu alguns meses do Manifesto o escrito Discurso sobre o pouco de realidade) ao longo de vários textos passando pel’O Surrealismo em Suas Obras Vivas (1953).
O Manifesto do Surrealismo nas éditions du Sagitaire, constitui um texto teórico publicado conjuntamente com Peixe Solúvel (no qual serve de prefácio) onde Breton oficializa a existência duma estética em que as suas realizações são anteriores, em cinco anos, à publicação do Manifesto, à custa de actividades experimentais ininterruptas em colaboração com um conjunto variável de participantes. Útil à vida literária considerada combativa, uma luta pela emergência e a legitimidade, constituiu um gesto reacionário em oposição a toda a contemporaneidade directa, reivindicando o retorno dos ancestrais, considerados sobrelevados pela crítica dominante – o Manifesto de forma séria, fez tabua rasa do passado imediato reconhecendo os seus percursores, tratando-se de uma espécie de “matar o pai, mantendo o avô”.
Centrado essencialmente as suas acções colectivas em Paris, o surrealismo teve grande influência na vida cultural francesa. Em 1934, Breton tomou consciência da necessidade duma “exportação” desta filosofia através da “internacionalização” (enquanto termo ele está ausente da sua obra, mas constante enquanto intervenção) do movimento, tanto por razões internas, como externas ao grupo, promovendo publicações (manifestos, livros, periódicos) paralelamente à realização de exposições, reforçando contactos noutros países, mesmo aqueles com regime de governação autoritária ou religiosa.
Assiste-se hoje, no decorrer deste emblemático ano do movimento surrealista internacional, à escala global, às comemorações centenárias da publicação do Manifesto. Para o efeito evocam-se as publicações antigas com reedições das mesmas, organizam-se congressos e comunicações académicas, reuniões e leituras públicas, exposições com obras históricas dando assim a ideia duma possível fuga da sombra, sombra essa à custa duma vara ao sol que a produz. Se entendermos que a obra dos Manifestos é essa mesma vara, com a fuga entendemos que ela se encosta a outra sombra, que é a mercantilista e académica duma sociedade virada ao consumo e ao carreirismo, estruturada à custa de outra vara: a das regras de mercado. Sendo por definição ideológica do surrealismo, essas mesmas as áreas principais de combate (a par de outros sistemas opressores e condicionantes da liberdade humana), geram-se assim paradoxos e conflitos dum peixe que afinal se torna solúvel, não no pensamento como o definiu Breton, mas na sua condição existencial. Entendemos hoje ser a ideia apresentada por Breton no seu célebre O Surrealismo nas suas obras vivas, ser o texto sequencial e elo maior dos Manifestos à proposta combativa do surrealismo na sociedade de hoje. Damos-lhe o devido destaque nas reuniões propostas (Famalicão, Paredes e Santiago de Compostella, 2024-2025) emprestando neste contexto, às evocações que propomos do centenário, a expressão bretoniana “fechei os olhos para espiar e expiar” (Obras Completas I, 356). Surrealismo? à suivre.
O encantamento do Surrealismo se fará presente em três momentos distintos, momentos estes satélites do derradeiro dia do centenário da publicação, a iniciar em setembro de 2024 e que se estenderá até meados 2025. A ocasião é tão significativa que reunirá não só artistas, mas também nomes importantes do movimento. Neste clima de celebração, estamos certos, o encontro surgirá de forma emotiva, entre a criatividade e a alegria.
Miguel de Carvalho & Sérgio Lima
Figueira da Foz, Julho 2024
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