Inaugura no dia 16 de Setembro, às 19h, a exposição "Aqui Não Lanço Âncora" de Ricardo Pires. Serão mostradas obras recentes com o objecto como tema central, à semelhança de exposições anteriores realizadas pelo artista. Estará patente de 17 a 30 de Setembro no Espaço AZ, em Lisboa. __________________________________________________ O trabalho de Ricardo Pires acena ao que não está lá, mas nisto também se avista a possibilidade que, na verdade, o “lá” não existe, o positivo do negativo que a obra parece representar, é, afinal, não existente. Isto não só abre ao infinito as possibilidades do que pode ser este “lá”, mas também torna o aqui precário, como se as duas dimensões, os dois estados, se pusessem continuamente em causa um ao outro. A arte faz perguntas ou dá respostas? A melhor faz perguntas, diriam os especialistas. Mas se não dá respostas talvez é porque não as há, mas se não há respostas talvez também não haja perguntas, ou, pelo menos, nem nesta dimensão sabemos todas as perguntas que pode haver. O não lançar âncora é um gesto primário de ética e de liberdade de escolha, e um que reconhece esta ignorância, a impossibilidade de tudo saber – tanto respostas como perguntas – e, portanto, é também um gesto de suprema coragem. O não amparar-se. No entanto, o não lançar âncora não quer necessariamente dizer ficar sem laços, não é forçosamente uma forma de negação. A âncora é um único laço, a dependência é completa, enquanto a obra de Ricardo não nega os laços (a uma realidade, a uma visão, a uma possibilidade, a um amparo), mas sim reconhece que eles são, sim precários e frágeis, mas, ao mesmo tempo, múltiplos e transitórios, em alguns casos até não existentes, ou então imaginários, mas sempre válidos por isso, ou sobretudo válidos por essa razão. E a obra do artista tem algo da âncora, não no seu agarrar-se, ou poisar-se, mas sim no facto que o seu aparente estado estático esconde uma tensão, a entropia do ponto de encontro entre dois objetos, que parecem estar a segurarem-se em equilíbrio, estado, na verdade, inexistente. Por fim, na coragem do ato de não lançar âncora há, ademais, uma enorme fé - em si, uma estranha forma de amparar-se, abstrata e irracional - no individuo e nas suas escolhas, no que ainda não se vê e talvez nunca surgirá à vista, ou, pelo menos, paradoxalmente, aquela ocular. Eva Oddo