Continuando o legado deixado em aberto pela mítica Takoma de John Fahey, a norte-americana Tompkins Square tem sido, sem grande espaço para dúvidas, a entidade que mais tem alavancado o presente e reanimado o passado de uma herança guitarrística que, partindo dos espíritos mais puros da folk, da country ou dos blues, se foi transmutando na chamada American Primitive ou em variantes da tradição britânica – prestando também atenção à gospel ou ao jazz, porque estes fantasmas se assombram mutuamente. Sendo grande responsável pela redescoberta do saudoso Michael Chapman, trazer à luz gravações Roscoe Holcomb e dar plataforma a artistas presentes como Gwenifer Raymond, James Blackshaw ou William Tyler, não é de estranhar, de todo, a presença de ‘Kissing Rosy in the Rain’ de Mason Lindahl no catálogo da celebrada editora. Lançado em 2021, ‘Kissing Rosy in the Rain’ perdura como um dos documentos mais preciosos do fingerpicking deste século, encontrando no modelo postulado por mestre Fahey mecânicas e valências para uma expressão bem pessoal que nunca se limita a debitar lições passadas, mas lhe oferece novas vidas. Num disco assombrado pela memória, por aquele sentimento de “longing” que tanto pode ser nostalgia pelo passado como por uma ideia de futuro, Lindahl deixa de lado quaisquer virtuosismos desnecessários – e algo recorrentes – para se focar no essencial das suas composições: arpeggios pacientes e acordes lânguidos que conjuram uma atmosfera solitária, com espaço, silêncios e cortes tensos que dão ao todo uma carga emocional quase dramática que nunca, mas nunca se impõe. Sugere-se antes no lirismo destas cordas que ressoam em proximidade, mesmo quando evocam espaços amplos. BS
José Vale é um guitarrista sediado na cidade do Porto que vagueia entre a música improvisada, experimental, noise e rock, tendo sido líder dos projectos: “Fox fist Fight”(2014/2015) e “Tentáculo”(2016/2018). Actualmente, é líder do projecto “Lucifer Pool Party” e tem o seu projecto a solo onde explora as vertentes mais experimentais da guitarra eléctrica, como guitarra preparada, processamento e feedbacks. Participa também nos projectos “Unsafe space garden” “Gonzo” e “Davide Lobão”. Nestes projectos, pôde explorar vários recursos de música improvisada, as ligações entre rock e o jazz, e a fusão de vários estilos musicais, como rock clássico, funk, jazz, noise, experimental, improvisação livre, reggae, rock psycadélico, rock progressivo, e até aspectos de música erudita. Licenciou-se em Guitarra jazz na ESMAE em 2021.
Fonte: https://zedosbois.org/programa/mason-lindahl-jose-vale/
