Neste mundo de certezas, torna-se delicioso quando ainda não se sabe bem o que se quer ser. Os Humana Taranja encarnam isso agora, seja pela idade dos seus cinco membros, quer pelo momento em que se encontram na carreira, um segundo longa-duração, um ano após o primeiro (“Zafira”, 2023), que nasceu após alguns anos de vida em palco e EPs. Compostos por Guilherme Firmino (guitarra e voz), David Yala (guitarra), Filipa da Silva Pina (teclado e voz), Marta Inverno (baixo) e Afonso Ferreira (bateria), os Humana Taranja soam a várias coisas e, enquanto soam a essas coisas, flutuam também entre géneros, seja de um rock emocional e juvenil ou de uma indie pop de toques febris.
Tudo faz parte da idade, da liberdade de ainda se poder decidir o que se quer – e como se quer fazer – sem medo do estranho. O rock dos Humana Tananja é inesperado, move-se com aquela carga desproporcional de emoções da adolescência, que mesmo que esses anos já tenham passado, “EUDAEMONIA”, o álbum que editaram em outubro de 2024 e que apresentarão na Zé dos Bois, é a libertação de uma acumulação de anos. São ideias que são presas em si, na incrível sensação de que isto está tudo a ser ingénuo, mas que tem mesmo de ser assim, porque sê-lo é um processo e é um que se tem de mostrar, principalmente quando se quer pegar nestes instrumentos e fazer música assim. Há aqui qualquer coisa que está a arder em permanência e que exige que não seja apagada, porque só assim dá para viver a plenitude deste estado. Os Humana Tananja sabem que tudo isto é temporário, que esta espécie de viagem-terapia que é este álbum é uma passagem com tempo limitado. E estão a aproveitar esse tempo, com letras que declaram essa existência e uma mescla de vozes que evidencia com frequência os contrastes de todas estas sensações. Eles sabem que isso é temporário, nós também, porque o agora não se repete. Este é um estágio bonito para uma banda assim. AS
polivalente serve-nos um punk psicadélico eletrónico – através do som de voluptuosas guitarras, drum machine e synth bass. O artista transmite uma mensagem intensa e sem filtros onde as letras abordam, ao som da sua voz, reflexões políticas e pessoais, fruto de um constante e longo processo de auto-desconstrução.
Fonte: https://zedosbois.org/programa/humana-taranja-polivalente/